Em meio à corrida pela aprovação de vacinas contra Covid-19 prontas para uso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acompanha o processo de desenvolvimento de fórmulas produzidas no país, em três instituições públicas de ensino superior. Consideradas promissoras, as iniciativas são da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os projetos estão em fase laboratorial ou pré-clínica, o que significa que os imunizantes ainda não foram liberados para aplicação em voluntários. Por enquanto, as fórmulas vem sendo avaliadas in vitro e em testes em animais. A expectativa é que os ensaios clínicos – quando o medicamento é administrado em humanos – comecem ainda no segundo semestre de 2021.
De acordo com o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, as instituições estão recebendo, desde 2020, aconselhamento científico da agência reguladora, para que possam avançar para a fase de ensaios clínicos. “São iniciativas que nós achamos bastante interessantes, porque são de universidades brasileiras”, afirmou Mendes, na sexta-feira (12/3).
Um dos projetos mais adiantados é o da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), em parceria com a empresa de biotecnologia brasileira Farmacore e a americana PDS Biotech. Batizada de Versamune-CoV-2FC, a vacina é composta por nanopartículas e proteínas recombinantes do Sars-CoV-2.
De acordo com a Farmacore, “o perfil-alvo da vacina é fornecer rápida indução de anticorpos neutralizantes, bem como células-T ‘killer’ e células-T de memória contra o vírus Sars-CoV-2”. A empresa apresentou à Anvisa dados pré-clínicos promissores, a partir de testes realizados em roedores. A próxima etapa são os ensaios clínicos de fases 1 e 2.
“Os resultados obtidos até o momento demonstram que a vacina induz à geração de anticorpos neutralizantes e, ao mesmo tempo, reforça a resposta imunológica, ativando o sistema de defesa celular. A expectativa é que essa combinação provoque uma resposta imunológica robusta e ofereça uma imunização de longo prazo, capaz de enfrentar as mutações do vírus”, afirma a empresa em comunicado.
O estudo da UFMG é desenvolvido pelo Instituto de Ciências Biológicas da universidade. Os pesquisadores testam a BCG – bactéria usada na vacina contra a tuberculose – modificada com alguns genes expressados pelo Sars-CoV-2, para avaliar se a tecnologia empregada seria capaz de induzir o corpo a uma resposta imunológica contra a doença.
De acordo com o coordenador da pesquisa, Sérgio Costa, a BCG também é capaz de ativar o sistema imune de forma heterogênea, potencializando as células de defesa contra outras doenças. Desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Instituto Butantan, a fórmula ainda não chegou na fase de testes em animais.
A vacina da UFRJ vem sendo apelidada de UFRJVac. Na tentativa de obter uma resposta imune adequada, pesquisadores usam a proteína S do coronavírus, combinada com adjuvantes – moléculas que têm a função de transportar o vetor da vacina e também auxiliam na ativação de anticorpos e células de defesa. A fórmula vem sendo desenvolvida pelo Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe.
Para a Anvisa, as vacinas nacionais seriam mais um instrumento no combate à pandemia. “Estamos empenhados em prover o aconselhamento científico e esclarecer os nossos procedimentos, para que as vacinas avancem e confirmem a sua eficácia e segurança. A nossa estratégia é ampliar o quanto antes o arsenal de vacinas disponíveis para o país”, disse Mendes.
Fonte: Metrópoles