Com o slogan Um reality onde os sonhos não envelhecem, o The Voice+ tem inspirado participantes (e telespectadores) a estreitarem os vínculos com a música. O programa, em exibição na TV Globo atualmente, é um show de calouros com candidatos com mais de 60 anos. A representatividade tem feito com que a turma da terceira idade perca a vergonha e busque realizar o sonho tantas vezes adiado.
Uma delas é Lúcia de Maria, representante do Distrito Federal no programa. Aos 66 anos, a cantora conta que, apesar de ter já uma carreira musical no DF, nos bastidores do The Voice+ conheceu colegas que criaram coragem de se lançar na música depois de se inscreverem na atração.
“Vi e ouvi pessoas do primeiro grupo dizendo que iam criar coragem de procurar ajuda profissional para cantar em público. Muitos candidatos não tinham uma carreira profissional, era uma coisa mais de dentro de casa, pessoas que cantavam na igreja, nos almoços de família ou entre amigos. Ao entrar no programa, elas veem a possibilidade de se profissionalizarem, aprender a lidar com a insegurança e com o público”, disse Lúcia de Maria, que faz parte do time de Ludmilla no reality.
Segundo o diretor artístico do The Voice+, Eduardo Macedo, esta foi justamente a intenção do programa: reunir candidatos plurais.
“Temos vozes que foram sucesso no passado, outras que compuseram e suas músicas fazem parte da vida dos brasileiros desde sempre. Temos quem sempre cantou, mas nunca profissionalmente, quem cantava profissionalmente, mas nunca se apresentou na TV. O mais interessante é que as histórias se encontram quando todos buscam a realização de um sonho. Ver a felicidade deles em cima do palco é algo que nos move”
Eduardo Macedo
O Metrópoles conversou com os técnicos da atração: Ludmilla, Mumuzinho, Daniel e Claudia Leitte. Todos reafirmaram a premissa do programa.
Da televisão para a realidade
Não foram apenas os candidatos a enfrentar o palco do The Voice+ que convidaram a música a fazer parte de suas vidas depois dos 60 anos de idade. Incentivados ainda pelo período ocioso dentro de casa, em virtude da pandemia de Covid-19, ou pela chegada da aposentadoria e, consequentemente, maior tempo disponível, pessoas dessa faixa etária têm recorrido à arte como novo hobbie e frequentado, inclusive, aulas on-line.
Foi com a chegada da aposentadoria que Kelson Corte, de 63 anos, viu a oportunidade de se dedicar à prática musical. Desde a adolescência gosta de violão, aprendeu em casa e passou a tocar o instrumento na igreja.
“Com a correria do dia a dia, obrigações do trabalho e família, a gente acaba deixando a música de lado. Quando eu estava próximo à aposentadoria, procurei nas aulas um aperfeiçoamento dentro da linguagem do choro, do samba canção e das serestas. Eu já tocava, mas queria tocar de uma maneira mais bonita”, justifica Kelson.
O professor de música Fernando César, que leciona na Escola de Choro Raphael Rabello, em Brasília, conta que boa parte dos seus alunos estão nessa faixa etária e reconhece que a música pode ser aprendida em qualquer idade.
“Todos são capazes de fazer música, só precisam ser direcionados a isso. Acredito no bem que a música faz para as pessoas. Ela ajuda a passar o tempo, na parte motora e na socialização, já que muitas vezes as aulas são em grupo”, relata o educador também ministra aulas particulares.
O professor afirmou que, nos últimos meses, a interação social foi, em parte, prejudicada devido a adoção de medidas de prevenção à Covid-19. Em tempos sem pandemia, uma vez por mês os alunos se reuniam para a roda de Choro, onde exibiam e compartilhavam seus talentos.
Contudo, a ausência das rodas presenciais não foi empecilho para impedir os encontros entre alunos e professores, que agora acontecem de forma segura, em ambiente virtual. “Tenho um aluno de 92 anos, por exemplo, que já tocava antes e continuou nas aulas, só que agora on-line”, detalha o professor.
É como o caso da aluna Lucila Morais, bancária aposentada que, aos 59 anos, está cursando aulas remotas da Escola de Choro. O contato com a música vem de longa data, mas o tempo disponível e a vontade de ser uma “eterna aprendiz” a levou a frequentar aulas de flauta transversal e violão, onde é nível intermediário.
“A experiência on-line tem sido muito interessante. Como não dá para tocar todo mundo ao mesmo tempo, você dá espaço para o colega tocar e aprende ao ouvir. É diferente, sinto falta da aula presencial, mas está sendo ótimo. Estou aproveitando o tempo ocioso para ser feliz. A música preenche o vazio dos risos e abraços, tão comuns na vida do brasileiro”, pondera Lucila.
Lucila chegou à gravar um vídeo falando sobre os benefícios da aula on-line em tempos de pandemia.
Fonte: Metrópoles