O Acre enfrenta dias duros no combate à Covid-19. Em todo o Estado, já são mais de 50 mil infectados e mais de 1.000 mortes causadas pelo novo coronavírus. Com isso, a rede hospitalar encontra-se saturada e só o Juruá, por exemplo, chega a ter de 88% de ocupação dos leitos de UTI disponíveis.
Em Cruzeiro do Sul, cidade na qual concentra-se os atendimentos da regional do Juruá, Tarauacá e Envira, além de alguns municípios do Amazonas, os números também são alarmantes. Dos mais de 5 mil casos de infecção, mais de cem pessoas foram a óbito. No boletim matinal de hoje, 09, sobre a Covid, constam 91 pacientes hospitalizados, dos quais 26 estão na UTI.
Por outro lado, essa cruel realidade parece não afetar, com tanta agressividade nesta segunda onda da doença, as crianças da regional. Os dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesacre) trazem, atualmente, que dos leitos pediátricos existentes, a taxa de ocupação chega a 0, 0%, ou seja, não há crianças internadas com Covid-19 no Hospital de Campanha do Juruá.
Um estudo chinês pode nos ajudar a entender essa baixa incidência de casos nessa faixa etária, na nossa região.
No estudo consta que, em mais da metade das crianças, a doença se manifesta com sintomas leves de febre, tosse, dor de garganta, nariz escorrendo, dores no corpo e espirros. O estudo também afirma que um terço desenvolvia sinais de pneumonia, com febre constante, tosse e chiados no peito, mas sem a falta de ar e a dificuldade para respirar vistas nos casos mais severos da doença.
Para Graham Roberts, Graham Roberts, consultor pediátrico honorário na Universidade de Southampton, uma das possibilidades é de que o vírus dependa de uma proteína na superfície da célula (o chamado receptor) para entrar na célula e começar a causar problemas. Ele diz que o coronavírus parece usar o receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA-2) para esse propósito.
“Talvez, nas crianças tenham menos receptores de ECA-2 em suas vias inferiores (pulmão) do que nas vias superiores, e por isso as vias superiores (nariz, boca e garganta) serem mais afetadas”, afirma o pediatra.
Ainda, segundo um outro estudo chinês, a proporção de crianças que desenvolveram sintomas graves ou críticos de covid-19 era muito menor (6%) do que entre adultos chineses (19%), especialmente adultos idosos com doenças preexistentes.
Mesmo diante da baixa manifestação de casos e dos sintomas graves da doença, é unânime o alerta de estudiosos de que crianças infectadas com sintomas leves ou inexistentes podem, sim, transmitir o vírus.