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O que está por trás da distribuição global de vacinas da China

Beijing diz rejeitar uso de doses em ação geopolítica, mas usa avanço tecnológico veloz para alavancar liderança

China tem rejeitado as acusações de ter “objetivos políticos” em sua distribuição de imunizantes contra a Covid-19. Nesta quarta (10), o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, foi enfático: “não fazemos diplomacia de vacinas”.

“Acreditamos que as doses são um bem público e buscamos enviá-las para o máximo de países possível. Isso é algo que todo o país desenvolvido deveria fazer”, afirmou, em registro do portal estatal China News.

Mas sempre há um objetivo, argumenta um relatório da tradicional revista norte-americana “Foreign Affairs”. Ao demonstrar sua capacidade tecnológica, a China pavimenta seu estratégico caminho rumo ao pódio da liderança global em saúde.

Como consequência, Beijing apresenta a “superioridade” de seu modelo autoritário de governança. “Os EUA não são páreo para a China em termos de concentração de poder para realizar grandes feitos”, disse um virologista chinês ao jornal “Global Times”, financiado pelo governo local, em março de 2020.

A narrativa de que não existe um movimento estratégico na criação da diplomacia das vacinas serve como resposta aos críticos que apontam um pragmatismo natural em sua distribuição – embora a questão geopolítica seja e sempre tenha sido fio condutor de decisões das potências globais.

No caso da vacina, moeda valiosa em todo o mundo após um ano de pandemia, os produtos feitos na China foram doados a 69 países para uso entre profissionais da saúde e populações de risco. Outras 28 nações negociam a compra das doses com preços abaixo dos valores de mercado.

Competição elevada

O regime autoritário da China certamente favoreceu o controle da pandemia, argumenta a “Foreign Affairs”. Além de permitir lockdowns draconianos para diminuir a circulação do vírus, o governo central mobilizou 22 institutos e empresas para trabalhar em 17 projetos de desenvolvimento de vacinas.

O país iniciou os testes clínicos de Fase 1 das doses já em fevereiro de 2020 – um mês após o início da pandemia em Wuhan. O apoio do governo permitiu às farmacêuticas um baixo custo para a produção das doses, movimento que pode elevar a China à categoria de player relevante na área de saúde em um espaço dominado pelos EUA e pela Índia.

O passo seguinte das farmacêuticas chinesas foi garantir a pré-qualificação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para fornecer suprimentos médicos a organizações internacionais e fundos de doadores – algo inédito até então.

Já os imunizantes feitos no país, ao contrário de diversos concorrentes ocidentais, podem ser armazenados em uma faixa de temperatura fácil de alcançar em geladeiras de uso doméstico, dispensando freezers muito potentes.

O armazenamento simples faz com que as doses sejam as favoritas de países de média e baixa renda – mas também de nações abastadas, como os Emirados Árabes Unidos. Para a China, agora o desafio é garantir as entregas dos imunizantes nos prazos acordados nos contratos.

O que está por trás da distribuição global de vacinas da China
Profissional da saúde coleta amostra para teste à Covid-19 na cidade de Tianjin, ao norte da China, em novembro de 2020 (Foto: Xinhua)

Demanda doméstica

Em um país não democrático, não há pressão pública relevante contra o envio de uma parcela cada vez maior das vacinas ao exterior. No início do mês, Beijing havia comprometido dez vezes mais doses para o exterior que as 52 milhões administradas a seus cidadãos.

Para conter o vírus no país, a China deveria vacinar até 80% de sua população de 1,3 bilhão de habitantes. Um relatório da Economist Intelligence Unit, porém, aponta que a imunização deve chegar a 60% apenas no final de 2022.

Até lá, o governo usa as doses como ferramenta de soft power – medida útil na disputa contra os EUA e nas investidas contra águas territoriais de nações asiáticas no Mar do Sul da China.

Fonte: A referencia

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