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Como avaliar o risco de ficar sem máscara em meio à pandemia

Desde maio, os norte-americanos podem andar sem máscara em ambientes abertos, mas nem todos se sentem confortáveis. Especialistas ajudam a avaliar os riscos

Por mais de um ano, muitos de nós temos seguido o exercício padrão: lavar as mãosmanter distanciamento de 2 metros, escolher atividades ao ar livre ou dentro de casa e – acima de tudo – usar máscara.

Depois que as vacinas contra a Covid-19 foram autorizadas para uso emergencial, as regras – conforme estabelecidas nas diretrizes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), agência reguladora de medicamentos e vacinas, semelhante à Anvisa – começaram a mudar lentamente à medida que mais pessoas eram vacinadas nos Estados Unidos.

Esse incremento nas medidas de relaxamento – lento demais para algumas pessoas – acelerou muito rapidamente em meados de maio, quando o CDC surpreendeu o público ao anunciar que os americanos totalmente vacinados não precisavam mais usar máscara ao ar livre ou mesmo em ambientes fechados, exceto em algumas circunstâncias.

Embora a notícia certamente tenha sido motivo de comemoração, também foi motivo de confusão. Antes, tínhamos uma regra simples e universal a seguir – usar uma máscara. Agora, cada um de nós precisa realizar um cálculo complicado de avaliação de risco diariamente, senão de hora em hora, enquanto navegamos em direção à vida pós-pandemia.

Para aumentar a confusão, há uma colcha de retalhos de regulamentações que ainda existem em diferentes estados, cidades e até mesmo em espaços públicos como restaurantes e lojas. E é impossível dizer quem é vacinado e quem não é. Sendo assim: podemos, devemos, remover nossa máscara? Quando? Onde? E com quem?

O problema com atalhos mentais

Quando tentamos resolver problemas ou tomar decisões, contamos com a “heurística”, um nome sofisticado para regras práticas, intuição e atalhos mentais que ajudam em nosso julgamento, de acordo com Eve Wittenberg, cientista de decisões em saúde da Escola de Saúde Pública de Harvard.

“Para passar pela vida cotidiana, basicamente temos que simplificar as coisas. Vemos algo, reconhecemos e tomamos uma decisão sobre isso, porque simplesmente não temos tempo e geralmente não temos as informações para avaliar tudo nos mínimos detalhes “, de acordo com Wittenberg.

A cientista afirma que não estamos acostumados a fazer o tipo de matemática necessária para a avaliação de risco envolvendo nova orientação sobre o uso de máscara: não podemos confiar no “cálculo existente em nossas cabeças”, porque a situação não é familiar. Além disso, não sabemos as probabilidades de certos resultados ou os diferentes fatores que influenciam em uma situação como esta.

A autora Maria Konnikova chama isso de “ambiguidade” – o fato de não saber qual é a probabilidade de certos resultados. E ela diz isso faz com que avaliar riscos, como jantar em um ambiente fechado, embarcar em um avião ou assistir a um show, fique ainda mais difícil.

Konnikova, que tem um Ph.D. em psicologia, também é jogadora profissional de pôquer e convidada do meu podcast, “Chasing Life“. Ela diz que o pôquer fornece uma grande percepção do comportamento humano, pois o jogo e a vida estão cheios de probabilidades e incertezas, informações incompletas e desconhecidas, e ainda assim, em ambas as situações, ainda somos forçados a agir.

No pôquer, você também deve fazer uma aposta, que indica o seu nível de confiança. Você está disposto a apostar $ 10 que não precisa usar máscara? Que tal $ 100? ou $ 1.000? Apostar na sua decisão o obriga a avaliar o risco de forma mais completa.

“Mas com a Covid-19, há um elemento que não existe no pôquer, ainda mais desgastante para o cérebro humano, que é a ambiguidade”, explica. Ela disse que, neste momento confuso, é muito importante buscar fontes confiáveis de informação e ser guiado apenas pelos dados. Também devemos deixar de lado as emoções e estarmos ciente de seus nossos preconceitos.

Mas a dica mais importante para a tomada de decisões no pôquer e na vida é atualizá-las com base nas informações recebidas. “De repente, as informações mudam e sua decisão precisa ser atualizada. Talvez permaneça a mesma, mas você tem que se acostumar constantemente com esse processo de avaliação”, afirma.

Quão protegidos estamos?

Ao tentar avaliar seu risco, lembre-se de que a recomendação do CDC sobre não usar máscaras é para pessoas vacinadas. Casos de Covid-19 – e especialmente hospitalizações e mortes – estão ocorrendo principalmente entre não vacinados, de acordo com uma análise do Washington Post.

Na maioria das vezes, pessoas não vacinadas são principalmente um risco para outras pessoas não vacinadas. Elas não representam um grande risco para os vacinados e vice-versa. É por isso que o Dr. Jay Varkey, especialista em doenças infecciosas e professor associado da Emory University School of Medicine, enfatiza a importância das vacinas. “Número um: seja vacinado. Número dois: vacine sua família e as pessoas mais próximas de você”.

Quão seguro é deixar de usar máscara? Não é 100% seguro: para as pessoas que são vacinadas, pode haver o que se chama de “infecções invasivas”, o que significa que uma pessoa pode se infectar mesmo depois de ser vacinada. Mas elas são raras.

Há dois pontos principais a serem lembrados. O primeiro é que é muito improvável que a pessoa vacinada fique realmente doente, mesmo se tiver a rara infecção disruptiva. O CDC relata que, em 1º de junho, dos 135 milhões de americanos que estão totalmente vacinados, 2.274 foram hospitalizados ou morreram devido à Covid-19.

O segundo ponto – e isso é importante para quem vive com crianças menores de 12 anos ou alguém que por razões de saúde não pode ser vacinado – é que, mesmo que a pessoa vacinada seja infectada, a ciência está começando a mostrar que é muito improvável que ela seja contagiosa o suficiente para espalhar o vírus.

Mas ainda há, como diz Konnikova, ambiguidade – não sabemos com certeza se uma pessoa vacinada nunca pode ser infectada silenciosamente e depois infectar outra pessoa, mesmo que seja muito raro.

É esse pequeno pedaço de ambiguidade que mantém o consultor Erin Bromage, professor associado de biologia da Universidade de Massachusetts em Dartmouth, acordado à noite. O especialista afirma que, desde que o CDC mudou a orientação sobre a máscara, ele recebeu ligações “ininterruptas” de clientes preocupados perguntando-se como proceder.

“Sabemos que pessoas vacinadas não vão parar na UTI e não estão morrendo. As vacinas são incríveis a esse respeito”, diz. Mas ele se pergunta o que acontece com a cadeia de transmissão com uma pessoa vacinada. “Como cientista, ainda preciso descobrir se a cadeia de transmissão para na pessoa vacinada ou se ela pode fazer parte dela”.

Segundo ele, essa questão é particularmente importante quando se trata de pessoas que ficam em um mesmo local, em distâncias pequenas, durante muito tempo. “Pense em um call center – turno de oito horas por dia, alguém que está a dois metros e meio de distância de você e falando o dia todo. Essa pessoa é um risco para outra não vacinada que está lá? “, questiona.

Bromage disse que, para os indivíduos que não trabalham em condições semelhantes às de um call center, o importante é avaliar a situação em que você se encontra e tomar medidas para mitigar o risco.

“A vacina pode reduzir o risco de infecção em 10 vezes. Uma máscara de boa qualidade reduz seu risco em cerca de 20 vezes. Distanciamento físico e evitar situações de alto risco – restaurantes, academias etc. – também têm um fator multiplicativo no que diz respeito à redução de risco”, conclui.

Risco calculado?

Você é tolerante ou avesso ao risco? Algumas pessoas acreditam que certos indivíduos não querem se arriscar, como retirar a máscara em público, porque sua natureza os torna mais cautelosos.

Mas James Hammitt, professor de economia e ciências da decisão e diretor do Harvard Center for Risk Analysis, vê as coisas de maneira um pouco diferente. “Minha opinião é que as pessoas diferem muito nas coisas com que se preocupam”, disse ele.

“Saber que o risco de uma determinada atividade é X não diz o que você deve fazer. A questão é: isso vale a pena? E isso é mais uma questão de preferência: o que você ganha se expondo ao risco mais alto? Pode ser uma atividade muito valiosa para você; nesse caso, pode valer a pena correr o risco. Não há uma resposta objetivamente correta para isso”.

Ele diz que uma maneira simples de escolher é fazer uma comparação direta: “O valor do ganho é maior do que o prejuízo causado por esse risco para mim?”. Hammitt ecoa o que Wittenberg e Konnikova disseram sobre nunca termos informações suficientes para estimar perfeitamente o risco de algo. “O mundo é tão complicado; tudo está cheio de riscos. Não podemos ser especialistas na maior parte do que fazemos”.

É por isso que ele acha que faz sentido que os especialistas primeiro forneçam as informações. E então, nós, como indivíduos, devemos avaliar quão confiáveis as consideramos e quão relevante elas são para nossa própria situação. “De alguma forma, combinamos informações de muitas fontes e as usamos para avaliar o quão grande e aceitável é o nosso risco e quão importante é fazer coisas para reduzi-lo”, explica.

Os mais cautelosos

Um grande grupo de pessoas que pode escolher ser mais cauteloso são pais de crianças com menos de 12 anos, que ainda não podem ser vacinadas. E eu sei – porque recebo suas cartas – que muitos ficam confusos sobre quando é possível deixar de usar a máscara.

A boa notícia é que as crianças não são infectadas com tanta facilidade e não ficam tão doentes quanto os adultos. Mas a má notícia é que algumas ficaram; quase 4 milhões de crianças tiveram resultados positivos desde o início da pandemia.

A American Academy of Pediatrics recomenda que crianças de 2 anos ou mais usem máscara quando estiverem em público – inclusive em acampamentos, quando jogarem com amigos e quando praticarem esportes ao ar livre com contato próximo e esportes internos. O CDC abandonou sua exigência de máscara para campistas e conselheiros totalmente vacinados, mas não o fez para aqueles que são muito jovens para receber as vacinas.

Varkey concorda que o uso contínuo de máscara para menores de 12 anos é prudente e exige um pouco mais de paciência. “Esperar é a coisa mais segura e conservadora a se fazer pelas crianças, pelos colegas, pelos professores e também pelas famílias para as quais voltam.”

Outro grupo que provavelmente é mais avesso ao risco: pessoas que não desenvolvem uma forte resposta imunológica à vacina porque são imunocomprometidos ou tomam medicamentos que suprimem o sistema imunológico, como remédios para artrite reumatoide e doença inflamatória intestinal.

Essas pessoas clinicamente vulneráveis- e aqueles que moram com elas – provavelmente serão mais cautelosos ao remover as máscaras também. O diretor do National Institutes of Health, Dr. Francis Collins, estima que 5% da população, ou cerca de 16,7 milhões de americanos, se enquadram nessa categoria.

E é por isso que se vacinar, se você puder, é tão importante – porque protege as crianças e os imunodeprimidos entre nós. Essa é a essência da imunidade de rebanho. “Mesmo se você achar que não precisa, pense nisso como uma doação de sua própria boa vontade para aqueles que são mais vulneráveis”, disse Collins à CNN.

E é também por isso que é importante lembrar que não há problema em continuar usando máscara, se é o que você acha que sua situação exige. Eu carrego uma máscara no bolso o tempo todo, e se alguém estiver muito preocupado, por respeito, eu a coloco.

As pessoas estão nervosas e cautelosas; tem sido um ano traumático para todos nós, e alguns de nós podem demorar mais do que outros para se sentirem seguros o suficiente para não usar máscara.

Via: CNN

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