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Ruas do Povo: Entenda o impasse entre governo e prefeitura nas mais de 600 ‘ruas judicializadas’ em Rio Branco

O programa Ruas do Povo foi lançado em 2011 com a promessa de pavimentar todas as ruas do estado até o final de 2014 pela gestão do ex-governador Tião Viana (PT). Mais de uma década após o lançamento do projeto, locais da capital acreana, Rio Branco, que foram contemplados pelas obras, geram polêmica com reclamações quanto à estrutura e falta de reparos.

A prefeitura de Rio Branco alega ser impedida de intervir nos locais por suposta judicialização dessas ruas. Contudo, diversos órgãos estaduais atestam que não há decisões judiciais que proíbam a prefeitura de executar obras.

Entenda agora os principais pontos do impasse entre a administração municipal de Rio Branco e o governo sobre a responsabilidade das ruas envolvidas no caso.

1. Ruas ‘sem dono’

Um levantamento feito pela prefeitura de Rio Branco em 2022, revelou que a capital do Acre tem 607 ruas de 17 bairros dos dois distritos da cidade que não poderiam por nenhum serviço de manutenção, o que impacta diretamente a trafegabilidade e até acessibilidade em alguns casos. O bairro com maior número de ruas desassistidas é o Belo Jardim (I e II), com 99 ruas.

À época do levantamento, o secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana de Rio Branco (Seinfra), Cid Ferreira, informou que cerca de 24 processos judiciais foram abertos tanto pelo Estado quanto por empresas contratadas para atuar no Programa Ruas do Povo. Por isso, a prefeitura não deve trabalhar nessas mais de 600 ruas, para não alterar provas dos autos.

2. Não há ‘ruas judicializadas’

Porém, diversos órgãos estaduais questionam a alegação e atestam que não há decisão ou ordem judicial que proíba a prefeitura de trabalhar nessas ruas. O chefe da divisão jurídica do Serviço de Água e Esgoto do Acre (Saneacre), Thiago Maia Viana, afirmou, por meio de parecer, que o termo ‘ruas judicializadas’ é incorreto, já que não existem decisões nesse sentido.

“Inclusive, oportuno deixar claro, que o termo ‘RUAS JUDICIALIZADAS’ é falho, uma vez que não, repito, NÃO HÁ, nenhuma rua judicializada (…)”, afirma o documento.

No mesmo documento, consta um relatório técnico, do engenheiro civil Denilson Carvalho de Alencar, da divisão de processos administrativos, que rebate a alegação da prefeitura e afirma haver maneiras de realizar reparos nessas ruas e documentar o estado em que se encontravam anteriormente, o que garantiria as obras sem interferências em processos judiciais.

“Porém nesse caso o tempo decorrido até o presente iria dar prioridade para que a análise técnica fosse realizada através de provas documentais, como planilhas de medições, relatórios fotográficos e técnicos, pareceres técnicos, diários de obras, as built, memoriais, notificações ou outros. Seria preterida a verificação in loco dos serviços a serem consultados, dados os argumentos precedentes dos efeitos do tempo desde a execução dos mesmos”, diz.

3. Audiência pública

Desde o início deste ano, a prefeitura tem indicado o vereador João Marcos Luz (MDB), líder do prefeito Tião Bocalom na Câmara Municipal, para falar sobre o assunto. O parlamentar reafirmou o receio da prefeitura em interferir em disputas judiciais, mas reconheceu que não há decisões do judiciário que impeçam o município de executar obras nesses locais. Segundo o vereador, o posicionamento da prefeitura é uma “medida administrativa”.

“Não existe trava jurídica, essa é a grande realidade. O que existe é uma ação ética, uma medida administrativa de responsabilidade com o recurso público. O prefeito Tião Bocalom não pode simplesmente encobrir esse crime. Estamos tentando resolver”, argumentou.

João Marcos Luz anunciou ainda a realização de uma audiência pública entre órgãos e autoridades envolvidas na questão no dia 7 de julho para buscar soluções.

“Esse problema só será resolvido com união entre o governo e a prefeitura. Não adianta jogar apenas para a prefeitura. Eu quero pedir, inclusive, que o governador Gladson Cameli compareça à audiência pública. Queremos que ela seja uma oportunidade de solução. O prefeito já disse que vem, e esperamos que possamos fazer um acordo para resolver esse problema”, prometeu.

4. O que diz o MP

O Ministério Público do Acre (MP-AC) tentou intermediar a situação, destacando que os mais prejudicados são os moradores, que acabam pagando duas vezes: nos impostos e tendo que viver em ruas sem manutenção.

Na época da divulgação do balanço das ruas, o promotor Alekine Lopes, da promotoria de Habitação e Urbanismo, afirmou que a prefeitura pode, antes de iniciar obras nas ruas questionadas, fazer o registro fotográfico nos locais e remeter ao Judiciário como provas das condições que se encontravam os locais antes das intervenções.

“Isso não é um entrave, porque é possível plenamente ser feita uma prova antecipada, faz perícia do local como está agora, essa prova é levada ao Judiciário e é homologada pelo juiz”, destacou o promotor.

“Essa situação está sendo recorrentemente alegada pela prefeitura nos procedimentos da promotoria quando ela é oficiada.”, informou o promotor Luiz Henrique Rolim, que está à frente. Ele disse que ainda não podia detalhar mais coisas, pois ainda estava analisando algumas documentações.

Por: G1 Acre

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