InícioECONOMIAJuros altos e inflação deixam Black Friday mais cara em 2024

Juros altos e inflação deixam Black Friday mais cara em 2024

Uma das datas mais aguardadas para as compras do fim de ano é a Black Friday, que começa nesta sexta-feira (29/11). Boa parte da população faz planos e economiza dinheiro para comprar eletrodomésticos, roupas e até passagens aéreas.

Como a alta dos juros, mudanças na taxação de produtos importados e o dólar nas alturas impactam o comportamento dos consumidores durante a Black Friday? O Metrópoles consultou especialistas para entender como esses fatores influenciam no momento das compras.

É consenso entre eles que a taxa Selic e a inflação impactam no poder de compra das pessoas. Quanto maior os juros, o crédito dos consumidores fica mais caro, o que acaba desestimulando o interesse por compras parceladas. Do outro lado da balança, a inflação faz a renda familiar ficar comprometida e, assim, a prioridade passa a ser a aquisição de itens essenciais.

Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, analisa que a combinação dos fatores (inflação elevada e alta taxa de juros) “tem impacto significativo no comportamento de consumidores e varejistas durante a Black Friday”.

“A inflação reduz o poder de compra da população, enquanto os juros elevados encarecem o crédito, desestimulando compras parceladas. Consequentemente, os consumidores estão mais cautelosos, priorizando itens essenciais e buscando descontos reais”, explica. “Por outro lado, os varejistas enfrentam desafios para oferecer promoções atrativas, já que os custos operacionais aumentaram devido à inflação”, complementa.

Para Monteiro, essa combinação de fatores econômicos deve resultar em uma “Black Friday menos aquecida, com expectativas de crescimento modesto nas vendas em comparação aos anos anteriores”.

Por outro lado, Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, acredita que, apesar desse cenário, “a Black Friday deste ano tem registrado um aumento na intenção de compras, com consumidores mais seletivos e em busca de ofertas realmente vantajosas”.

No entanto, ele reconhece que o varejo brasileiro terá o “desafio de equilibrar preços competitivos com custos operacionais crescentes devido à inflação”. Ainda segundo ele, as margens de lucro podem ser pressionadas, mas “estratégias como promoções mais longas e ofertas omnichannel ajudam a atrair consumidores e a compensar as dificuldades econômicas”.

Uma pesquisa do site Reclame Aqui mostra que cerca de 78,5% dos consumidores pretendem fazer compras durante a Black Friday. Outro fator destacado pelo levantamento é a disponibilidade financeira das pessoas.

Entre os pesquisados, 43,94% devem gastar entre R$ 1 mil e R$ 4 mil, enquanto 27,05% vão desembolsar entre R$ 100 e R$ 500. A maioria deles (60,35%) mostrou interesse em fazer comprar com o cartão de crédito (de forma parcelada) e 20,16% via Pix.

O estudo foi realizado de forma on-line na plataforma da própria empresa entre os dias 4 e 7 de novembro. Foram entrevistados 1,8 mil consumidores que responderam questões sobre o comportamento durante a Black Friday.

E a “taxa das blusinhas”?

Desde 1º de agosto, uma alíquota de 20% incide sobre compras internacionais de até US$ 50 em plataformas on-line, como AliExpress, Shein e Shopee. A retomada da taxação foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula (PT).

Com a medida, o imposto de 20% vai incidir sobre itens abaixo de US$ 50 (R$ 299,3 na cotação de 28 de novembro de 2024). A legislação continua a mesma para os produtos acima dos US$ 50 e até US$ 3 mil (R$ 17.959 na cotação de 28 de novembro de 2024): o consumidor paga uma taxa de 60% sobre o valor da compra.

Em ambos os casos (compras inferiores ou maiores do que US$ 50), também será cobrado o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) — com valor estabelecido pelos estados —, com alíquota que varia de 17% a 22%.

Roberto Jalonetsky, CEO da Speedo Multisport, pontua que a recente mudança do imposto sobre importações “impacta positivamente” a Black Friday para o varejo, uma vez que os “produtos internacionais, que antes não eram taxados, agora estão mais caros”.

“Isso torna os produtos nacionais mais competitivos, pois, em muitos casos, podem ter preços similares ou até mais baixos, favorecendo a compra no comércio local”, lembra Jalonetsky.

Para Monteiro, a retomada desse imposto traz uma “mudança significativa” apenas no comércio eletrônico. Ele destaca que a medida que visa equilibrar a competitividade entre empresas nacionais e estrangeiras acaba aumentando o custo final para o consumidor.

Lima ressalta que a retomada da taxação de 20% tem efeito duplo. De acordo com ele, “pode ser positivo para varejistas brasileiros, que ganham competitividade, mas prejudica consumidores que dependem de importações para adquirir produtos a preços mais acessíveis”.

Como o consumidor pretende agir na Black Friday?

Os produtos que estão no radar dos consumidores na Black Friday, ainda de acordo com o levantamento do Reclame Aqui, são:

  • Eletrônicos (celulares, notebooks, TVs, drone, caixas de som) – 51,36%
  • Eletrodomésticos (TV, geladeiras, fogões, etc.) – 35,56%
  • Eletroportáteis (sanduicheira, batedeira, liquidificador, etc.) – 22,75%
  • Moda e vestuário (roupas, calçados, acessórios) – 37,87%
  • Casa e decoração (móveis, utensílios, decoração) – 33,79%
  • Beleza e saúde (perfumes, cosméticos, suplementos) – 28,07%

Eles também assinalaram onde* pretendem fazer as compras. Veja:

  • Lojas físicas, no comércio do bairro – 15,60%
  • Lojas físicas, em grandes redes – 27,25%
  • Lojas online via redes sociais – 26,91%
  • Lojas online, em sites, e-commerces, marketplaces, apps – 75,14%
  • Live commerces (lives de Instagram, eventos com artistas na TV, etc) – 2,86%
  • WhatsApp – 2,72%

*Nesta parte da pesquisa os consumidores puderam marcar mais de uma opção.

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