Em uma manhã marcada por esperança e avanço na saúde pública, a cidade de Cruzeiro do Sul presenciou nesta quarta-feira (24) um marco no combate à malária no Vale do Juruá. Com a presença da apoiadora municipal do Ministério da Saúde, Nádia Martinez, foi anunciada oficialmente a incorporação da tafenoquina, um novo antimalárico, ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Uma nova esperança no combate à malária
“O maior problema de saúde pública aqui no Vale do Juruá, historicamente, é a malária”, afirma Nádia. O cenário é crítico: Cruzeiro do Sul responde por cerca de 60% dos casos registrados no estado do Acre. Por isso, a implementação da tafenoquina representa um passo crucial.

Segundo Nádia, o novo medicamento tem como principal objetivo eliminar a recaída da doença causada pela espécie Plasmodium vivax, algo que os medicamentos anteriores, como a primaquina, nem sempre conseguiam evitar.
Tratamento mais curto e eficaz
Até agora, o tratamento padrão contra a malária levava de sete a nove dias, o que, na prática, resultava em muitas desistências por parte dos pacientes. Com o novo protocolo, o tempo total de tratamento será reduzido para apenas três dias — o primeiro com tafenoquina e cloroquina, e os dois seguintes apenas com cloroquina, podendo ser tomados em casa ou com supervisão médica.
“O encurtamento do tempo de tratamento aumenta significativamente a adesão dos pacientes”, explica Nádia. Isso porque, geralmente, ao sentir melhora nos dois primeiros dias, muitos abandonavam o tratamento anterior, abrindo caminho para recaídas.
A tafenoquina, por sua vez, atua diretamente sobre formas latentes do parasita que ficam escondidas no fígado. “Mesmo com o tratamento convencional, ainda havia casos em que a doença voltava. Com a tafenoquina, essa possibilidade praticamente desaparece”, reforça a apoiadora.
Chegada ao SUS e segurança do medicamento
O medicamento foi fruto de um estudo clínico extenso, envolvendo mais de 5 mil pacientes em locais como Porto Velho (RO) e já foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “É um medicamento seguro, sem reações adversas graves registradas até o momento”, garante Nádia.
Nesta quarta-feira, a tafenoquina começou a ser distribuída nas duas últimas unidades de saúde de Cruzeiro do Sul que ainda não a utilizavam: a UPA e o Hospital do Juruá — que, aliás, é o segundo maior centro de produção de exames e atendimento de malária da região. “É um dia histórico, porque completamos a cobertura total das unidades de diagnóstico e tratamento com o novo medicamento”, celebrou.
Meta: eliminação da doença até 2035
O novo tratamento está diretamente ligado a uma meta ambiciosa, porém possível: eliminar a malária no Brasil até 2035, conforme os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, pactuados pelo país. “Esse medicamento nos aproxima dessa meta”, afirma Nádia.
A chegada da tafenoquina ao SUS representa não apenas um avanço clínico, mas um alívio para milhares de pessoas que, ano após ano, convivem com o risco e os sintomas debilitantes da malária. No coração da Amazônia, onde a doença ainda é uma sombra constante, um novo capítulo começa a ser escrito — com mais esperança e menos recaídas.