Duas vidas foram salvas, por pouco. Em uma noite marcada pelo silêncio tenso e o som súbito das sirenes, a Polícia Militar do Acre, por meio do 6º Batalhão, protagonizou duas ações decisivas que impediram o que poderiam ter sido duas execuções em Cruzeiro do Sul, no coração do Vale do Juruá.
As ocorrências aconteceram entre a noite de quinta-feira (15) e a madrugada de sexta (16), revelando, mais uma vez, a complexidade da violência urbana que ronda a segunda maior cidade do estado. Por trás dos uniformes e das armas, havia o senso de urgência de quem sabe que minutos podem separar a vida da morte.
Primeira ocorrência: a brutalidade no Miritizal
Era fim de noite quando o COPOM (Centro de Operações da Polícia Militar) recebeu uma denúncia anônima: gritos e movimentação estranha vinham de uma área do bairro Miritizal. De imediato, equipes da ROTAM e do GIRO foram enviadas ao local. Ao chegarem, encontraram uma cena chocante: dois homens espancavam violentamente uma terceira pessoa, com socos e pontapés.
O que poderia parecer uma simples briga de rua escondia um plano ainda mais sombrio. Os agressores estavam em uma moto Tornado vermelha e um carro modelo Saveiro branco, com o qual tentavam forçar a vítima a entrar – uma tentativa clara de sequestro.
“O objetivo, segundo os indícios que colhemos, era levar essa vítima para uma provável execução. A rápida intervenção da equipe evitou esse desfecho trágico”, afirmou o capitão Thales Campos, subcomandante do batalhão.
A surpresa veio logo depois: a vítima, além de ter escapado da morte, também possuía um mandado de prisão em aberto. No fim, todos os envolvidos — dois suspeitos e a própria vítima — foram levados para a delegacia.
Segunda ocorrência: o silêncio cortado por facões no Conjunto Cumaru
Menos de três horas depois, uma nova denúncia movimentava a central da PM. No Conjunto Cumaru, moradores relatavam gritos vindo de uma residência. Era por volta de 1h da manhã quando a viatura RP01 chegou ao endereço informado.
Dessa vez, os suspeitos fugiram ao ver a aproximação da polícia. Dentro da casa, os policiais encontraram um homem ferido com cortes profundos de facão. Mais uma vez, a vítima escapava da morte — por pouco. E mais uma vez, um mandado de prisão pesava sobre ela.
Ferido e assustado, o homem recebeu os primeiros socorros ainda no local. Em sua expressão, havia mais do que dor física: havia o medo constante que paira sobre tantos jovens do interior acreano, arrastados para o mundo do crime por caminhos muitas vezes inevitáveis.
A rotina dos que correm contra a morte
Para o Capitão Thales, as duas ocorrências ilustram não apenas a eficiência da PM, mas também a complexidade das situações enfrentadas diariamente.
“É difícil ver alguém escapar da morte por tão pouco. Atuamos de forma rápida e cirúrgica. Essas pessoas poderiam não estar mais aqui. Nosso trabalho é proteger, mesmo quando a vítima também responde por crimes”, afirmou.
Em ambos os casos, os suspeitos presos e as vítimas foram encaminhados à delegacia, onde as investigações seguem agora sob responsabilidade da Polícia Civil.
Violência cíclica e os desafios da segurança
Os episódios desta madrugada mostram uma triste realidade: em muitas situações, vítimas e agressores fazem parte do mesmo ciclo de violência. A presença de mandados de prisão contra os dois homens que escaparam da morte revela um enredo comum em áreas vulneráveis: jovens que transitam entre a posição de vítima e de réu, numa espiral sem fim.
Em bairros como Miritizal e Conjunto Cumaru, onde o poder público muitas vezes chega apenas na forma da repressão, a violência se instala como regra. O tráfico, as facções e a ausência de oportunidades empurram muitos para um destino cruel — e, por vezes, inevitável.
Dessa vez, a morte foi evitada. Mas os desafios continuam. Para a PM, para a Polícia Civil, e para toda uma sociedade que ainda precisa encontrar respostas para uma violência que, cada vez mais, bate à porta da noite.
Fonte: Juruá 24 Horas