Aline Pereira Ghammachi liderava um mosteiro no interior do País até ser acusada de maus-tratos e manipulação
Há dois anos, no entanto, a irmã Aline foi denunciada em uma carta anônima enviada ao papa Francisco. “Disseram que eu destratava e manipulava as irmãs”, contou a brasileira, em entrevista à Folha de S. Paulo.
Após a carta chegar ao papa, começou uma auditoria no mosteiro. A primeira foi em 2023, durou semanas e sugeriu-se que o caso fosse arquivado, conforme documento a que o jornal teve acesso. No entanto, o caso foi reaberto, semanas depois.
Aline acredita que o pedido partiu do frei Mauro Giuseppe Leporia, abade-chefe da ordem que dirige o mosteiro. “Ele dizia que eu era bonita demais para ser abadessa, ou mesmo para ser freira. Falava em tom de piada, rindo, mas me expôs ao ridículo”, explicou Aline sobre o frei, com quem trabalhou por anos.
Em 2024, o Vaticano mandou outra visitadora apostólica ao local. “Ela não fez nenhum teste conosco, não fez absolutamente nada, apenas teve uma conversa. E chegou à conclusão de que eu era uma pessoa desequilibrada e que as irmãs tinham medo de mim”, disse Aline, citando as 22 mulheres que viviam no mosteiro com ela.
A brasileira acabou perdendo o cargo, e uma nova abadessa, de 81 anos, chegou ao mosteiro no dia da morte do papa Francisco, em 21 de abril. No dia 28 do mês passado, Aline foi embora do mosteiro. Onze das 22 mulheres que viviam no local também decidiram sair, após a saída da brasileira. “As que ficaram são as irmãs anciãs, de 85 anos, 88 anos”.
Uma das freiras que deixou o mosteiro se manifestou publicamente para defender a ex-abadessa brasileira. “Foi inaugurado um tratamento medieval, um clima de calúnias e acusações infundadas contra a irmã Aline que, por sua vez, é uma pessoa muito séria e escrupulosa e que nos últimos anos se tornou o ponto de referência para a comunidade”, disse a freira Maria Paola Dal Zotto ao jornal Gazzetta.
Em busca de justiça
Agora Aline quer justiça. Ela chegou a ir até o Vaticano, durante a semana do conclave, para tentar recorrer. “Eu não tive direito de defesa. Fui colocada para fora do mosteiro, sem motivação. Estamos até recorrendo no Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica. Por que aconteceu? Porque eu sou mulher, porque eu sou jovem e porque, principalmente nesse contexto, sou brasileira”.
Ela ressalta que sua origem e sua feição podem, sim, ter influenciado na decisão. “Aí mostra a questão sexista, machista. Porque uma pessoa jovem e bonita deve ser burra. Não pode ser inteligente, tem que ficar calada”.
Apesar do episódio, Aline celebra a eleição do novo papa, Leão XIV. “Eu acredito que seja positivo, porque ele luta pelos direitos humanos. E ele é um papa canonista, ou seja, é formado em direito canônico. Então, ele vai entender a lei. Isso para mim já fala muito. Eu não estou pedindo nada mais do que a lei”.
Na Itália, a história de Aline tem repercutido. A RAI, um dos principais canais de televisão da Europa, fez uma reportagem especial sobre o tema. Ainda segundo a Folha, uma produtora audiovisual da Alemanha já planeja transformar a história da brasileira em um filme.
Por: Diário do Nordeste