Delegados relatam casos chocantes e pedem atenção redobrada de familiares e professores para sinais de abuso: “O impacto é para a vida toda”
Cruzeiro do Sul está recebendo uma força-tarefa da Polícia Civil voltada exclusivamente para um dos crimes mais dolorosos e complexos de se investigar: os abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes. A ação emergencial ocorre diante da alta demanda de casos que chegam à delegacia, muitos deles envolvendo estupros de vulneráveis — um tipo de violência que, infelizmente, em sua maioria, acontece dentro da própria casa da vítima.
Segundo o delegado Vinícius Almeida, o município vive uma triste realidade: “Todos os dias, todas as semanas, chegam novos casos. E para além dos que aparecem agora, há uma demanda represada, que precisa de respostas”, explicou ele. Para isso, a Direção Geral da Polícia Civil enviou uma equipe completa de apoio — composta por delegado, escrivão e agente — para dar vazão aos inquéritos e acelerar a responsabilização dos agressores.
Violência que vem de dentro
Durante a entrevista, Vinícius falava enquanto despachava um inquérito que resume o drama silencioso que muitas crianças vivem. “Era o avô abusando da própria neta. É doloroso ter que lidar com isso, mas é comum. Infelizmente, a maioria dos casos acontece no seio familiar: pais, padrastos, tios, primos…”, lamentou.
Essa característica, segundo ele, torna a investigação ainda mais complexa, pois envolve traumas profundos, laços afetivos e muitas vezes o medo da criança em denunciar. “É uma violência psicológica imensa, que marca para a vida toda. A vítima cresce com feridas invisíveis, carregando cicatrizes que, muitas vezes, nunca se curam totalmente”, disse.
Sinais que não podem ser ignorados
O delegado faz um alerta direto às famílias, escolas e profissionais da saúde: é fundamental estar atento aos sinais. “Tivemos aqui caso de criança com perda de cabelo, crise de ansiedade, isolamento. Ela se fecha, muda o comportamento. Isso pode — e deve — ser percebido”, afirmou.
Ele lembra ainda que, muitas vezes, a vítima não consegue expressar o que está vivendo por medo, vergonha ou por não se sentir segura. Por isso, o papel de professores, cuidadores e familiares é essencial. “Eles têm o dever de procurar ajuda. A omissão só prolonga o sofrimento da criança”, reforçou.
Missão de 12 dias: repressão firme e acolhimento
O delegado Roberto Lucena, que integra a força-tarefa, explicou que a ação foi definida pela Direção Geral da Polícia Civil como prioridade em todo o estado. “Estamos aqui em Cruzeiro do Sul e depois seguimos para Tarauacá, com foco exclusivo nos crimes sexuais contra vulneráveis. São crimes que nos chocam, que ferem a sociedade. E nossa missão é agir com firmeza para garantir justiça”, afirmou.
A equipe deve permanecer por 12 dias na cidade, atuando diretamente na apuração dos casos, no andamento dos inquéritos e na responsabilização dos abusadores.
Um crime que não será tolerado
Ambos os delegados destacaram que a Polícia Civil está empenhada em reprimir esse tipo de conduta com todo o rigor da lei. “A gente não aceita esse tipo de crime. Vamos para cima com o poder que a legislação nos oferece. Essas crianças precisam saber que não estão sozinhas”, declarou Vinícius Almeida.