Em meio à vazante do rio Juruá, que já começa a afetar a navegabilidade nas rotas fluviais do interior do Acre, o comandante Elisandro Perírio Oliveira, mais conhecido como “Elbis”, compartilhou as dificuldades enfrentadas por quem transporta cargas e passageiros entre Cruzeiro do Sul, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo.
Responsável por uma embarcação de médio porte, Elbis relata que, com o nível atual do rio, a viagem de Cruzeiro até Marechal ainda pode ser feita em cerca de quatro dias. No entanto, ele alerta que, caso a seca se intensifique nas próximas semanas, esse tempo pode saltar para até dez dias — ou mais.

“Ano passado, teve gente que passou 14 dias pra chegar lá”, recorda.
A estiagem também impacta diretamente no valor do frete. Durante a cheia, o quilo da mercadoria era transportado por até R$ 0,50. Hoje, com as águas baixando, o custo já chega a R$ 1,00 e pode dobrar caso o cenário se repita como em 2023. “No ano passado, chegou a R$ 2,00 o quilo”, revela. Isso ocorre não só pelo tempo maior de viagem, mas também pela necessidade de embarcações menores para vencer trechos rasos, o que gera custos extras com combustível, pessoal e alimentação.
Além disso, os perigos na navegação aumentam. Galhadas e troncos começam a emergir, exigindo atenção redobrada dos tripulantes. “Tem trecho que já tá cheio de pau. Se não tiver cuidado, bate”, explica Elbis. Apesar disso, ele afirma que ainda não houve acidentes graves neste ano.
Mesmo com a dificuldade, o comandante afirma que ainda consegue transportar cerca de 12 toneladas por viagem. “Se continuar do jeito que tá, esse ano pode ficar igual ao passado, que foi o pior que eu já vi desde que comecei a andar nesse rio”, desabafa.
A fala de Elbis revela não apenas o impacto da seca para os navegantes, mas também os reflexos para a população ribeirinha, que depende diretamente do transporte fluvial para o abastecimento de mercadorias essenciais. Em meio às incertezas do verão amazônico, quem vive do rio segue contando cada centímetro de água.