Projeto chega às salas de aula e aposta em alunos do 4º ano como agentes de transformação dentro das famílias
Um esforço conjunto entre educação e saúde pública pretende transformar a maneira como Cruzeiro do Sul lida com o mosquito Aedes aegypti. Na manhã desta segunda-feira (27), foi lançado na cidade o projeto “Todos Contra o Aedes aegypti”, uma iniciativa que envolve alunos, professores, gestores escolares e autoridades municipais e estaduais para enfrentar, de forma educativa e preventiva, os riscos causados pela dengue, chikungunya, zika e febre de Mayaro.
Com apoio do Ministério da Saúde, o projeto será implantado em dez municípios do Acre e chega a Cruzeiro do Sul em um momento estratégico: após a reversão de uma possível epidemia no primeiro quadrimestre do ano, a cidade agora se prepara para o período de estiagem, que costuma favorecer o acúmulo de criadouros do mosquito.
Educação como ponte entre escola e família
Durante o lançamento, o coordenador-geral do Núcleo da Secretaria Estadual de Educação (SEE) em Cruzeiro do Sul, Alderlan Gomes, ressaltou que o projeto fortalece o papel da escola como elo direto com a sociedade. Ele destacou que os estudantes do 4º ano serão preparados para levar conhecimento às suas casas e comunidades.

“É um programa que vem somar com nossa instituição de ensino, já que a sociedade está inserida dentro da escola. Nossos alunos do quarto ano serão trabalhados em sala de aula e esses conhecimentos vão para suas casas, para suas famílias. A intenção é que a informação não pare na escola”, explicou.
Alderlan também lembrou que a cidade enfrenta não apenas a dengue, mas também a malária, tornando o projeto ainda mais relevante no contexto local.
Saúde alerta para reincidência e novos casos
O secretário municipal de Saúde, Marcelo Siqueira, enfatizou que o controle do mosquito depende da ação coletiva da população. Segundo ele, cerca de 70% dos criadouros do Aedes aegypti estão dentro das casas, em tanques de água limpa usados para banho e cozinha.

“Se a gente não unir a sociedade, não vamos conseguir avançar. É um mosquito doméstico. E ele não transmite só dengue — este ano já tivemos seis casos confirmados de febre de Mayaro, que tem o mesmo vetor”, alertou.
Marcelo reconheceu os avanços no controle da dengue em Cruzeiro do Sul, mas disse que o momento é de vigilância constante.
“Conseguimos quebrar a curva de casos que sinalizava uma grave epidemia no começo do ano, mas não podemos contar vitória antes da hora. Com a estiagem, é o momento ideal para reforçar o combate aos criadouros. E isso precisa começar dentro de casa”, reforçou.
Projeto chega às salas com material didático e ações interativas
Daniela Freitas, coordenadora do Instituto SAP — organização que executa o projeto no estado —, explicou que a proposta é transformar os alunos em “combatentes mirins”, promovendo o engajamento da comunidade escolar por meio de educação e criatividade.

“Esse é um projeto de comunicação em saúde, com formação de professores, gincanas, concursos culturais e entrega de materiais didáticos. No final, vamos premiar os melhores trabalhos em outubro, o mês nacional de combate ao Aedes”, explicou.
Segundo ela, a ideia é capacitar mais de 600 professores e alcançar diretamente 15 mil alunos em dez municípios. O projeto já foi realizado com sucesso em estados do Nordeste e, no Acre, será acompanhado por pesquisas de campo para medir sua eficácia.
“Vamos aplicar o LIRAa — Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti — agora, e depois de novo em novembro, para comparar os resultados. A expectativa é ver uma transformação real nos números da infestação, com a ajuda de cada aluno, cada família”, disse Daniela.
O aluno como “agente infiltrado” nas casas
Um dos pontos altos da proposta é a entrega de uma carteirinha simbólica de “combatente mirim” aos estudantes. Daniela acredita que o protagonismo das crianças pode ser um diferencial decisivo.
“Eles são nossos agentes infiltrados nas casas, porque têm voz ativa nas famílias. A ideia é que, ao receberem esse conhecimento, passem a cobrar e ensinar os adultos. Já que o mosquito está vencendo a batalha há mais de 20 anos, é hora de virar o jogo com educação e saúde juntas”, finalizou.
Próximas etapas
Após o lançamento em Cruzeiro do Sul, o projeto segue para Rodrigues Alves e outras cidades do Vale do Juruá. A equipe pretende visitar cada local pessoalmente, mobilizando gestores e população.