InícioCAPALideranças indígenas do Vale do Juruá se reúnem para fortalecer territórios, cultura...

Lideranças indígenas do Vale do Juruá se reúnem para fortalecer territórios, cultura e segurança alimentar

Encontro promovido pela OPIRJ discute projetos em andamento e busca unir povos, comunidades ribeirinhas e áreas protegidas na defesa da floresta


No Centro Diocesano de Cruzeiro do Sul, lideranças indígenas de 14 territórios do Vale do Juruá estão reunidas durante esta semana em um encontro que mistura escuta, construção coletiva e planejamento estratégico. A atividade é organizada pela OPIRJ (Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá) e tem como foco o fortalecimento das comunidades, a defesa dos territórios e a promoção da segurança alimentar e cultural dos povos originários da região.

Francisco Pianko, liderança do povo Ashaninka e atual coordenador da OPIRJ, explica que o encontro é uma oportunidade única de troca entre os conselheiros deliberativos e fiscais da organização, que representam uma diversidade de realidades vividas pelas comunidades indígenas da floresta.

“Cada povo tem sua própria dinâmica, suas necessidades e seus desafios. Por isso, esse processo é mais demorado e também mais rico. Cada um compartilha suas experiências, o que já deu certo, os projetos em andamento, e assim vamos aprendendo uns com os outros”, relata Pianko.


Projetos que brotam da terra e fortalecem a base

Entre as iniciativas da OPIRJ já em andamento nos territórios indígenas estão ações voltadas à segurança alimentar, como construção de açudes, criação de galinheiros e desenvolvimento de sistemas agroflorestais. Há também investimento no fortalecimento da cultura ancestral, com apoio a festivais tradicionais e encontros culturais que celebram a identidade de cada povo.

“Fazer uma reunião como essa custa muito. São 60, 80 pessoas durante uma semana, alimentação, deslocamento. Mas esse investimento é essencial para fortalecer as bases, tanto dos territórios quanto da própria organização. Estamos em movimento, com ações reais nos territórios”, afirma Pianko.

A organização já prepara, inclusive, um novo evento: o Festival dos Povos da Floresta, que deve reunir comunidades indígenas e tradicionais em Cruzeiro do Sul, com atividades culturais e debates sobre sustentabilidade.


“Nós estamos sendo invadidos”: o alerta das aldeias

Liderança geral do povo Nukukun, Edilson Nukukun — também conhecido como Pua Nukukun — representa 11 aldeias da Terra Indígena Pinas Katukina, com cerca de 750 habitantes. Ele reforça a importância do encontro para discutir problemas urgentes enfrentados pelos territórios, como as invasões de caçadores, madeireiros e a pressão de comunidades vizinhas.

“Não é novidade para ninguém. Estamos sendo invadidos. Tem entrada de caça, retirada de madeira, e muitas vezes não conseguimos agir por falta de apoio. Agora, com os projetos do OPIRJ, podemos fortalecer o monitoramento territorial”,afirma Pua.

Ele conta ainda que, nesta semana, os indígenas devem iniciar um diálogo com a equipe da Reserva Extrativista do Alto Juruá e comunidades ribeirinhas vizinhas. “É um começo. Vamos tentar alinhar interesses, entender os limites, fazer acordos. Precisamos estar organizados, indígenas e não indígenas, para proteger essa floresta que é de todos”, ressalta.


Uma voz para o Vale do Juruá

A OPIRJ vem se consolidando como ponte entre os povos indígenas da região e os órgãos públicos, ministérios e instituições parceiras. “Somos uma voz coletiva. Levamos as demandas aos espaços de decisão. Trabalhamos para que as comunidades sejam ouvidas e respeitadas”, afirma Francisco Pianko.

A semana de encontros termina nesta sexta-feira (9), mas os debates, os projetos e a luta dos povos da floresta seguem. Com organização, ancestralidade e resistência.

+ LIDAS

Proclamação da República.

+