Depoimentos de figuras ligadas ao ex-presidente abrem nova fase da investigação sobre tentativa de golpe. Ao todo, 82 testemunhas serão ouvidas até o início de junho
O Supremo Tribunal Federal (STF) dará início nesta segunda-feira (19), às 15h, à fase de coleta de depoimentos de testemunhas no processo que investiga o núcleo central da tentativa de golpe de Estado atribuída ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a sete aliados dele. Todos foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crimes graves contra a democracia e o Estado de Direito.
As oitivas, que seguirão até 2 de junho, ocorrerão por videoconferência, com os depoimentos colhidos simultaneamente. A medida busca evitar que os depoentes combinem versões. Ao todo, 82 testemunhas — indicadas tanto pela acusação quanto pela defesa — serão ouvidas.
Entre os nomes que devem depor estão autoridades políticas e militares com forte ligação ao governo Bolsonaro. Um dos destaques é o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que, segundo a investigação, teria ameaçado prender o então presidente após proposta para que as Forças Armadas aderissem ao plano golpista.
Também devem prestar esclarecimentos parlamentares aliados, ministros do governo anterior e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.
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As audiências serão conduzidas por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. A imprensa e os advogados das partes não poderão gravar os depoimentos, conforme determinação da Corte.
RÉUS SERÃO INTERROGADOS APÓS TESTEMUNHAS
Concluída essa fase, os oito acusados — incluindo Jair Bolsonaro — serão convocados para prestar depoimento. Ainda não há data definida para os interrogatórios. A expectativa é que o julgamento que decidirá pela condenação ou absolvição ocorra ainda em 2025.
O grupo responde por crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano ao patrimônio e deterioração de bem tombado. As penas, em caso de condenação, podem ultrapassar 30 anos de prisão.
VEJA QUEM DEPÕE NOS PRÓXIMOS DIAS
19 DE MAIO
- Ibaneis Rocha: Governador do Distrito Federal, testemunha de defesa de Anderson Torres. Teve a investigação arquivada após os atos de 8 de janeiro.
- General Freire Gomes: Ex-comandante do Exército, teria rechaçado proposta golpista de Bolsonaro.
- Éder Balbino: Empresário, teria contribuído com estudo que questionava a confiabilidade das urnas.
- Clebson Vieira: Servidor do Ministério da Justiça, teria presenciado tentativas de uso da PRF para dificultar o voto no Nordeste.
- Adiel Alcântara: Ex-coordenador de inteligência da PRF.
21 DE MAIO
- Carlos Baptista Júnior: Ex-comandante da Força Aérea, teria presenciado articulações golpistas em reunião com Bolsonaro.
23 DE MAIO
- Senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS): Testemunha de defesa do ex-presidente e de três generais.
- Almirante Marcos Olsen: Atual comandante da Marinha, arrolado pela defesa de Almir Garnier.
26 DE MAIO
- Marcelo Queiroga: Ex-ministro da Saúde, testemunha de defesa do general Braga Netto.
29 DE MAIO
- Paulo Guedes e Adolfo Sachsida: Ex-ministros de Bolsonaro, depõem em defesa de Anderson Torres.
30 DE MAIO
- Ciro Nogueira: Senador (PP-PI)
- Espiridião Amin: Senador (PP-SC)
- Eduardo Girão: Senador (NOVO-CE)
- Sanderson: Deputado federal (PL-RS)
- Eduardo Pazuello: Deputado federal (PL-RJ) e ex-ministro da Saúde
- Valdemar Costa Neto: Presidente nacional do PL
- Tarcísio de Freitas: Governador de São Paulo (Republicanos -RJ)
2 DE JUNHO
- Senador Rogério Marinho: Testemunha de defesa do general Braga Netto.
QUEM SÃO OS RÉUS DO “NÚCLEO 1”
A denúncia aceita por unanimidade pelo STF, em março deste ano, aponta oito nomes como responsáveis por estruturar a tentativa de ruptura institucional:
- Jair Bolsonaro: Ex-presidente da República
- Walter Braga Netto: General da reserva e ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro
- General Augusto Heleno: Ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Alexandre Ramagem: Ex-diretor da Abin
- Anderson Torres: Ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF
- Almir Garnier: Ex-comandante da Marinha
- Paulo Sérgio Nogueira: General e ex-ministro da Defesa
- Mauro Cid: Ex-ajudante de ordens e delator
Por: Diário do Nordeste