Mulheres ganharam protagonismo inédito no Vaticano na gestão do pontífice, mas ainda lutam por mudanças estruturais
dade de oportunidades para elas em uma pensata divulgada pelo site oficial do Vaticano nesta quarta-feira (8), quando se celebra o Dia Internacional da Mulher.
“Gosto de pensar que, se as mulheres tivessem acesso à igualdade de oportunidades, elas poderiam contribuir substancialmente para as mudanças necessárias para criar um mundo de paz”, afirma o pontífice no texto, que serve de prefácio ao livro “More Women’s Leadership for a Better World”, ou mais liderança feminina para um mundo melhor, publicado pela editora italiana Vita e Pensiero.
“É justo”, prossegue ele, “que elas possam expressar essas habilidades em todos os âmbitos, não apenas naquele familiar, e possam ser remuneradas de maneira equânime em relação aos homens ao desempenhar papéis iguais”.
A discussão sobre igualdade de gênero na Igreja Católica ganhou impulso na gestão do argentino, que levou mulheres a ganharem um protagonismo inédito no Vaticano. De acordo com dados da Santa Sé, a quantidade de mulheres que trabalham na Cúria Romana —isto é, a administração da Igreja Católica— quase triplicou desde a eleição de Francisco em 2013, indo de 812 para 3.114. Sua presença em comparação com a de funcionários homens também aumentou em relação ao papado anterior, e foi de 19,3% para 26,1%.
Mesmo assim, as mulheres se queixam que o arcaísmo persiste intacto no catolicismo, seja na cúpula da igreja em Roma ou nas paróquias espalhadas pelo mundo. São as mulheres, geralmente irmãs consagradas, que servem padres, bispos e cardeais como empregadas domésticas, quase sempre sem nenhum direito reconhecido.
A possibilidade do diaconato feminino —primeiro degrau na ordenação na hierarquia católica, seguido por padres e bispos— também não avançou sob seu papado, embora o pontífice tenha criado uma comissão para discutir o tema em 2016.
Mulheres que trabalham no Vaticano ainda se queixam que as reformas de Francisco não impediram a permanência de uma certa mentalidade machista no coração da Igreja Católica. Em condição de anonimato, elas afirmaram à agência de notícias AFP que experimentam certo desdém recorrentemente, principalmente pelos clérigos.
Uma delas disse que tinha a sensação de ser tratada como uma estagiária, e citou comentários recorrentes sobre suas roupas ou sua aparência por parte de seus colegas. Outra se queixou que os homens com que convive agem de forma paternalista em relação a ela e outras colegas, reiterando por exemplo estereótipos de que as mulheres são mais sensíveis.
A caracterização é feita pelo próprio papa, vide outro trecho da pensata publicada hoje pelo site do Vaticano: “As mulheres pensam de forma diferente dos homens. Elas são mais atentas à proteção do meio ambiente, e seu olhar não se volta para o passado, mas para o futuro. Elas sabem que dão à luz em meio ao sofrimento para alcançar uma grande alegria: conceder a vida e abrir novos e vastos horizontes. É por isso que as mulheres sempre querem a paz”.
A italiana Luceta Scaraffia, que entre 2012 e 2019 comandou um suplemento feminino no jornal oficial do Vaticano, é uma das críticas do atual pontífice no que se refere às suas políticas para mulheres. Também à AFP, ela afirmou que as reformas de Francisco são essencialmente cosméticas e, na verdade, escondem uma mentalidade machista segundo a qual “as mulheres devem servir sem pedir nada em troca”.
O papa, aliás, também fez referência a elas durante sua missa semanal no Vaticano, também nesta quarta-feira. Na ocasião, abençoou as mulheres presentes e pediu uma salva de palmas para elas.
Por: Folha de São Paulo