InícioCRUZEIRO DO SULAcordo viabilizará implantação da Central de Alternativas Penais em Cruzeiro do Sul

Acordo viabilizará implantação da Central de Alternativas Penais em Cruzeiro do Sul

Diante da realidade da superlotação carcerária no país, o fortalecimento da pena alternativa desponta para um novo caminho no sistema penal. O Brasil tornou-se signatário das Regras Mínimas das Nações Unidas Sobre as Medidas Não-Privativas de Liberdade, e as Varas Especializadas em Alternativas Penais começaram a ser implantadas a partir de 2001. Mas foi a partir da Resolução n. 288/2019, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que essa política ganhou ainda mais força e começou a apresentar efetivas mudanças diante da cultura do encarceramento, com o surgimento do programa Justiça Presente, atual Fazendo Justiça, que conta com o apoio do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN).

Na noite de sexta-feira, 13, na cidade de Cruzeiro do Sul, em solenidade realizada pelo Tribunal de Justiça do Acre, em alusão aos 15 anos da Lei Maria da Penha, foi assinado o Acordo de Cooperação Técnica, celebrado entre o Poder Judiciário do Acre, Governo do Estado, por intermédio do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (IAPEN) e Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), que permitirá a implantação da Central Integrada de acompanhamento de Alternativas Penais (CIAP) no município. O Acordo também conta com a participação da Defensoria Pública do Estado do Acre (DPAC).

O Acordo de Cooperação Técnica tem por finalidade o desenvolvimento de ações conjuntas entre os integrantes, visando à cooperação para a efetiva implementação, acompanhamento e avaliação da Política de Alternativas Penais em Cruzeiro do Sul/AC, nos termos propostos em Lei, concretizando, desta forma, as condições institucionais necessárias para o desenvolvimento de um modelo de gestão em alternativas penais com foco na intervenção penal mínima, no desencarceramento e na restauração dos danos e laços sociais.

O desenvolvimento dessa política tem como objetivo, sensibilizar a sociedade e sensibilizar a sociedade e o Sistema de Justiça criminal sobre a necessidade de aplicação das alternativas penais, como forma de se diminuir o encarceramento; Implementar, ampliar e qualificar a rede de serviços de acompanhamento das alternativas penais, bem como de sua aplicação; Fomentar o controle e a participação social na política de alternativas penais; Promover o enfoque restaurativo nas práticas de alternativas penais; Aprimorar a gestão da informação da política de alternativas penais.

A solenidade de assinatura contou com a presença da desembargadora Eva Evangelista, que atua na Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Comsiv) e na ocasião representou a presidente do TJAC, desembargadora Waldirene Cordeiro, do governador do estado, Gladson Cameli, da procuradora-geral do Ministério Público do Acre, Katia Rejane, e do diretor-presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre, Alernilson Cunha.

Participaram também a juíza-auxiliar da presidência do TJAC, Andréa Brito, o juiz de Direito Erik Farhat, titular da 1ª Vara Cível de Cruzeiro do Sul, a juíza de Direito, Ivete Tabalipa, que assumiu recentemente a titularidade da 1ª Vara Criminal do município. Ainda estiveram no ato, a primeira-dama de Cruzeiro do Sul, Lurdinha Lima, a promotora Juliana Foff, os promotores Ildon Peres, Leonardo Santos, o delegado de Polícia Civil, Rômulo Carvalho, a delegada Márdhia El Shawwa, a secretária de Assistência Social dos Direitos Humanos e de Políticas para Mulheres (SEASDHM), Ana Paula Lima, assim como a diretora da respectiva pasta, Isnailda Gondim, a diretora da Secretaria de Segurança Pública, Susie Lamas, o defensor público Alberto Augusto.

A desembargadora Eva Evangelista agradeceu os esforços da presidente do TJAC, desembargadora Waldirene, assim como da juíza-auxiliar da presidência, Andrea Brito, e da consultora do programa Fazendo Justiça do CNJ, Pâmela Vilella, nas tratativas para a viabilização do convênio. “Em nome da presidente do Tribunal, desembargadora Waldirene, quero agradecer ao Governo do Estado, ao Ministério Público e a Defensoria Pública pela parceria. Este é um momento muito importante para o nosso Acre, em especial para Cruzeiro do Sul, para que possamos avançar neste assunto como qualquer outra política pública, em que a formulação de uma política penal não está focada, exclusivamente, no tema prisão. Ela deve estar pautada por estudos em profundidade, com respaldo em evidências e normativas, especialmente para garantir a estabilidade de egressos na sociedade e também evitar o aprisionamento daqueles que não detém perfil para serem mantidos confinados”, frisou.

A decana da Corte ressaltou como exemplo de ação do TJAC que já promove essa formulação, o Grupo Reflexivo Homens em Transformação. A iniciativa é conhecida pelos resultados positivos no que se refere ao processo de ressocialização, atuando na responsabilização de autores de violência doméstica, que cumprem penas. A proposta é conscientizar os participantes visando uma mudança de comportamento. São realizados encontros formatados por uma equipe multidisciplinar do Poder Judiciário Acreano, que conta com assistente social e psicólogo. “Acredito muito na ressocialização e ela só ocorre com medidas em que o agressor reconhece suas responsabilidades”, finalizou a desembargadora.

Parceria institucional

O governador do Acre, Gladson Cameli também agradeceu aos esforços das instituições e o fortalecimento de parcerias nas ações. “É sempre muito bom estar em um evento como este celebrando parcerias com o Tribunal de Justiça e Ministério Pública. São duas instituições sérias e que contam com o meu respeito. Sabemos que a situação de violência vivenciada no Acre nos preocupa, mas eu tenho a certeza que vamos virar esse jogo buscando viver em uma sociedade pacífica”, afirmou.

A procurada-geral do MPAC, Kátia Rejane, agradeceu o convite feito pela desembargadora Eva, é reforçou o sentido da simbologia do ato. “A desembargadora Eva é uma mulher que inspira outras mulheres, e agradeço o convite para este momento em que celebramos os 15 anos da Lei Maria da Penha, que é uma lei que veio para todo o Sistema de Justiça lembrar que existe um sistema voltado ao combate da violência contra a mulher. Estivemos por três anos seguidos em primeiro lugar no ranking de feminicídio e isso nos preocupava muito. Hoje, esse quadro começa a mudar e é graça aos esforços das instituições, que temos buscado dar cumprimento as medidas que recaem sobre a questão da violência contra a mulher”, disse.

À frente do Iapen, Arlenilson Cunha, comemorou a existência da CIAP em Rio Branco e disse não ter dúvida do bom resultado que ela será também em Cruzeiro do Sul. “Temos que ter um sistema prisional que reintegra, ressocializa e devolva o indivíduo ao convívio social. A Ciap de Rio Branco atende mais de 700 cumpridores de medidas e este momento é marcante com a assinatura desse convênio para Cruzeiro do Sul. Mais de 1 milhão de reais que vai possibilitar alcançar 400 pessoas cumprindo medidas alternativas, ou seja, aqueles que vão sofrer um delito de menor potencial, mas que é imposto a mesma pena restritiva de direito, permitindo que ela seja acompanhada devidamente”, ressaltou.

Uma nova visão

A política de alternativas penais se pauta pela necessidade de uma nova pactuação federativa e integral do Sistema de Justiça pela redução do encarceramento e criação de mecanismos que favoreçam a resolução de conflitos, a responsabilização dos ofensores e prevenção às violências e criminalidade. No Acre, o número de pessoas encarceradas vinha aumentando, tendo o estado alcançado a maior população carcerária em 2019, quando atingiu o número de 6.283 pessoas em suas unidades prisionais (excluídos as pessoas em monitoração eletrônica).

O ano de 2020 interrompe uma serie histórica de 7 anos de crescimento populacional chegando ao seu último mês com 6.268 pessoas privadas de liberdade, sendo a primeira vez, em oito anos, que o estado não apresentou elevação desse índice, destacando uma redução percentual de 0,2%. Atualmente, o número de pessoas privadas de liberdade, segundo o Iapen, é de 5.989 (dados de julho de 2021). Desde 2018 é a primeira vez que esse número fica abaixo de 6 mil pessoas.

via; ac24horas

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