InícioACREMitos da vacina contra a Covid-19: especialistas rebatem os principais

Mitos da vacina contra a Covid-19: especialistas rebatem os principais

Informações erradas têm feito os norte-americanos duvidarem da segurança das vacinas. Especialistas reafirmam a importância da vacinação em todo o mundo

Os norte-americanos têm uma maneira fácil de acabar com a Covid-19, algo que permitiria às empresas reabrir totalmente com segurança, livrar-se da necessidade do distanciamento social e restaurar um retorno à normalidade sem máscaras: a possibilidade da vacinação em massa da população.

Porém, à medida que mitos e mal-entendidos se espalham, muitos não querem ser vacinados. “O Facebook faz uma pesquisa todos os dias, que tem mostrado que a confiança na vacina tem diminuído lenta, mas constantemente, desde fevereiro, nos EUA“, disse o doutor Christopher Murray, diretor do Instituto de Avaliação e Métricas de Saúde da Universidade de Washington.

“Chegamos a ter 75% dos adultos dizendo que queriam tomar a vacina. Agora, nessas pesquisas, caímos para cerca de 67%”. Isso é um grande problema por diversos motivos, e que valem para qualquer lugar do mundo:

– Especialistas em saúde dizem que é necessário que pelo menos 70-85% da população dos EUA vacinada para alcançar a imunidade de rebanho.

– Quanto mais tempo as pessoas permanecem não vacinadas, maiores são as chances do vírus sofrer uma mutação. E se as mutações forem significativas, elas podem levar a cepas mais problemáticas que podem escapar das vacinas.

– A “Covid longa” é real. Até mesmo jovens atletas têm sofrido de confusão mental, dores no peito e falta de ar, meses após a infecção.

“Mesmo para os jovens que consideram baixo o risco de contraírem a Covid grave, as consequências a longo prazo podem ser bastante sérias”, disse o doutor Francis Collins, diretor do National Institutes of Health.

Porém, mitos crescentes e preocupações desnecessárias são obstáculos para tanto. Veja alguns dos argumentos mais comuns dos americanos para não tomar a vacina desmistificados por especialistas. O alerta também vale para os brasileiros e demais cidadãos de outros países:

‘Não sabemos quais são os efeitos colaterais de longo prazo’

Os efeitos colaterais adversos das vacinas quase sempre “aparecem nas primeiras duas semanas e, certamente, nos primeiros dois meses”, disse o doutor Ashish Jha, reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown.

Por esse motivo, ele e muitos outros especialistas em saúde pediram ao FDA (a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos) para aguardar pelo menos dois meses após a inoculação dos participantes de estudos clínicos antes de concederem a autorização de emergência para as vacinas contra a Covid-19. “Se houvesse problemas, eles se tornariam aparentes dentro de dois meses após as pessoas terem sido vacinadas”, comentou.

Historicamente, os efeitos colaterais mais graves de uma vacina foram detectados dentro de seis semanas, disse o doutor Paul Offit, diretor do Centro de Educação em Vacinas do Hospital Infantil da Filadélfia e membro do Comitê Consultivo para Vacinas e Produtos Biológicos do FDA.

“Diga-me qual vacina já demonstrou causar um efeito colateral de longo prazo que não foi detectado nos primeiros dois meses”, comentou Offit, o cocriador da vacina contra o rotavírus e médico que estuda vacinologia há mais de quatro décadas.

“A vacina contra a varíola pode causar inflamação do músculo cardíaco. A vacina oral contra a poliomielite foi uma causa rara de poliomielite, que ocorreu em cerca de 1 em cada 2,4 milhões de doses. A vacina contra a febre amarela é uma causa rara de… febre amarela. Todos esses casos ocorreram seis semanas após o recebimento da dose”, afirmou.

Pode haver efeitos colaterais muito raros que não são encontrados imediatamente em estudos clínicos. Mas isso se deve à extrema raridade desses efeitos colaterais, e “não porque seja um problema de longo prazo”, disse Offit. “Às vezes não se percebe inicialmente porque é extremamente raro, portanto não se detecta um risco de um em um milhão em um estudo com 44 mil pessoas”, explicou.

Pfizer/BioNTech e a Johnsson & Johnsson tiveram cerca de 44 mil participantes em cada um de seus ensaios clínicos. Metade dos voluntários foi vacinada, e a outra metade recebeu placebo. O estudo da Moderna teve cerca de 30 mil participantes, sendo que metade recebeu a vacina, e outra metade, placebo. Como o coronavírus é extremamente contagioso, sendo responsável pela morte de mais de 3 milhões de pessoas no mundo, é muito melhor tomar a vacina.

‘A vacina pode prejudicar minha fertilidade’

Isso não faz o menor sentido, afirmou Offit. Não há evidências de que as pessoas tenham perdido a fertilidade por causa das vacinas contra a Covid-19. O boato aparentemente começou com o mito de que a proteína do tipo spike do coronavírus, que é simulada por uma vacina, também simula a proteína na superfície das células da placenta, contou Offit.

“Havia a falsa noção de que ao produzir uma resposta imune à proteína spike do SARS-CoV-2, nosso corpo também estaria inadvertidamente dando uma resposta a uma proteína placentária, o que poderia levar à infertilidade”, acrescentou. “Não faz o menor sentido. Não é verdade”.

O CDC, Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, também afirmou não haver ligação entre as vacinas e a fertilidade. “Se você está tentando engravidar agora ou deseja engravidar no futuro, você pode tomar a vacina contra a COVID-19 assim que ela estiver disponível”, disse o CDC.

“Atualmente, não há evidências de que qualquer vacina, incluindo as vacinas contra a COVID-19, cause problemas de fertilidade”. Os benefícios de se vacinar superam em muito os riscos, porque a gravidez aumenta o risco de ter um caso grave de Covid-19. Além disso, algumas pesquisas sugerem que as vacinas contra a Covid-19 fornecem algum nível de proteção aos recém-nascidos.

‘Não é da sua conta se eu não tomar a vacina’

Recusar-se a tomar a vacina contra a Covid-19 afeta muitas pessoas: você, seus entes queridos e até mesmo o país como um todo. “Quando as pessoas perguntam: ‘Por que você se importa? Você está vacinado. Minha escolha é não me vacinar. Você tomou a vacina, então tudo bem'”, essa frase contém três suposições falsas, alertou Offit.

“Em primeiro lugar, as vacinas não são 100% eficazes“. Portanto, mesmo que seus amigos e familiares sejam vacinados, se você não for, ainda pode se infectar e transmitir o vírus para seus entes queridos. E à medida que as medidas restritivas começam a ser flexibilizadas, a necessidade de vacinação em massa torna-se ainda mais importante.

Segundo, é um erro pensar que todo mundo que quer a vacina pode tomar. “Algumas pessoas estão fazendo quimioterapia contra câncer. Elas não podem se vacinar, e portanto dependem do coletivo para protegê-las”, explicou Offit.

“E terceiro, ao não se vacinar ou fazer parte de um grupo de pessoas que opta por não tomar a vacina, você está permitindo que o vírus continue a se replicar. Se permitirmos que o vírus continue a se replicar, ele irá criar mutações, que podem então gerar variantes que são totalmente resistentes à imunidade induzida por infecção natural ou vacinação”.

Em outras palavras: não tomar a vacina pode tornar as vacinas menos eficazes. Isso pode acabar com a vacinação de todo mundo, fazendo o país andar para trás nessa pandemia.

‘Sou jovem e saudável, não preciso me vacinar’

É fundamental que adultos jovens e saudáveis sejam vacinados. Muitos dos que se recusaram já pagaram um preço. Uma cepa altamente contagiosa está afetando drasticamente os adultos jovens. A variante B.1.1.7 é agora a cepa mais dominante do coronavírus sendo disseminada nos Estados Unidos. Ao contrário da cepa original, esta afeta fortemente os jovens.

“Temos que pensar na variante B.1.1.7 quase como um vírus novo”, disse o doutor Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical da Baylor College of Medicine. Por que a B.1.1.7 é mais contagiosa do que outras cepas

“Portanto, lembrem-se de que a variante B.1.1.7 é diferente dos tipos anteriores de infecção de Covid que vimos. É uma doença mais séria e, possivelmente, mais grave em pessoas mais jovens”.

Os adultos jovens podem ter complicações de longo prazo devido à Covid-19. Muitos jovens saudáveis acabaram sofrendo com os efeitos da Covid longa, ou seja, tendo sintomas persistentes da doença. Muitos apresentaram fadiga crônica, dor no peito, falta de ar e confusão mental por meses após a infecção.

Um estudo recente descobriu que 30% das pessoas que tiveram Covid-19 ainda apresentavam sintomas até nove meses após a infecção. “A Covid-19 não precisa matar para destruir sua vida”, disse o doutor Jonathan Reiner, professor de medicina e cirurgia da George Washington University.

Os jovens podem ser grandes transmissores do coronavírus. Recentemente, diversos estados norte-americanos relataram picos nos casos de jovens com Covid-19. “Grande parte da disseminação está acontecendo entre os mais jovens”, contou o doutor Jha. “Esse é o grupo que está se movimentando, de certa forma relaxando, e se infectando”.

Os jovens adultos podem ser vítimas de seu sistema imunológico forte. Os médicos notaram que alguns pacientes jovens e previamente saudáveis sofrem de tempestades de citocinas por conta da Covid-19. Isso ocorre basicamente quando o sistema imunológico de alguém reage de forma exagerada, podendo causar uma inflamação severa ou outros sintomas graves.

“Com certeza vimos pessoas entrarem no hospital, muito jovens (na casa dos 20 anos), que precisaram ser colocados em ECMO, que é basicamente uma máquina capaz de funcionar como um pulmão e um coração artificiais, por dias ou até semanas, porque chegaram com cardiomiopatia, uma resposta à tempestade de citocinas”, explicou Reiner.

Se poucas pessoas forem vacinadas, nunca chegaremos à imunidade de rebanho. “É importante vacinar o maior número de adultos o mais rápido possível”, disse o especialista em medicina interna, o doutor Jorge Rodriguez.

‘Essas vacinas têm apenas autorização de uso emergencial, não a aprovação definitiva do FDA’

É verdade, nos Estados Unidos, as vacinas da Pfizer/BioNTech (que tiveram autorização de uso definitivo no Brasil pela Anvisa), da Moderna e da Johnson & Johnson possuem uma autorização de uso emergencial do FDA, e ainda não obtiveram a aprovação definitiva.

No entanto, isso é apenas porque não se passou tempo suficiente para mostrar por quanto tempo as vacina permanecem eficazes, disse Offit. “Sinceramente, a única diferença real foi na duração do acompanhamento”, comentou. “Normalmente, espera-se ver a eficácia por um ou dois anos”.

Mas com as vacinas contra a Covid-19, “não se poderia fazer isso. Não dava para fazer um estudo de um, dois ou três anos, porque o vírus estava matando centenas de milhares de pessoas. Então, a vacina tinha de ser liberada”.

Ele ressaltou que o status das vacinas não significa que sejam menos seguras. Como membro do comitê consultivo para vacinas do FDA, Offit disse que as vacinas são revisadas com o mesmo nível de rigorosidade utilizado para obter a aprovação definitiva.

Além disso, os estudos clínicos demonstraram “excelente resposta celular imunológica, ou seja, a das chamadas células T auxiliares”. Offit disse que isso é um bom sinal, de que as vacinas oferecem proteção forte e duradoura.

‘Já tive Covid-19, então não preciso me vacinar’

Mesmo que você já tenha contraído o coronavírus, ainda deve ser vacinado, porque a imunidade que você obtém com a vacinação provavelmente será mais longa ou mais forte do que a obtida após a infecção, dizem os especialistas em saúde.

“Isso é uma verdade para uma série de vacinas: a contra o papilomavírus humano (HPV) induz uma imunidade melhor do que a infecção natural. A vacina contra o tétano também”, afirmou.

Quando se trata de vacinas de duas doses (como as da Pfizer/BioNTech, da Moderna, da AstraZenecae a Coronavac), as pessoas que já tiveram o coronavírus ainda devem tomar as duas doses, recomendou a médica de emergências doutora Leana Wen.

Essas vacinas foram estudadas em pessoas que tomaram as duas doses, e é isso que os especialistas sabem que é eficaz. Não se sabe a duração da proteção após somente uma dose. “Também não sabemos por quanto tempo a proteção irá durar após uma infecção pelo coronavírus, então você ainda deve ser (totalmente) vacinado”, completou Wen.

‘Minha fé vai me proteger, então não preciso ser vacinado’

Entre os grupos religiosos nos EUA, “protestantes evangélicos brancos se destacam como os mais propensos a dizer que se recusarão a tomar a vacina (26%), sendo que uma parcela adicional de 28% diz estar hesitante”, de acordo com um estudo das entidades de pesquisa Public Religion Research Institute e Interfaith Youth Core.

“Se você acredita que Deus nos criou à sua imagem, incluindo a capacidade de pensar e raciocinar, temos sido capazes de pensar e raciocinar para afastar muitas dessas doenças”, graças à vacinação.

“Ninguém morre mais de varíola. As crianças não ficam mais permanentemente paralisadas pela poliomielite nos Estados Unidos. Isso é uma coisa boa. E isso é porque Deus nos deu um cérebro para pensar e raciocinar. Vamos usá-lo”.

Resumindo: não se vacinar pode prejudicar todo mundo
Se você quer se proteger e proteger seus amigos, sua família e a economia, vacine-se. Caso contrário, você será parte do problema, e não da solução. “Esse vírus continua a sofrer mutações”, disse Offit. “O que mais me preocupa é que ele sofra uma mutação a ponto de a imunidade induzida por infecção natural ou vacinação não funcionar. Essa é a razão mais importante para se vacinar”.

Quanto mais tempo um vírus circular entre pessoas não vacinadas, mais oportunidades ele terá de sofrer mutações. Se as elas forem significativas, podem gerar variantes mais problemáticas, incluindo algumas que poderiam escapar parcial ou totalmente da proteção de uma vacina.

“Isso já está acontecendo”, disse Offit, citando as variantes B.1.351 e P.1. Embora as vacinas ainda sejam eficazes contra essas cepas, “essas variantes agora começaram a escapar da imunidade gerada por infecção natural ou imunização. Eles não escaparam completamente, mas já começaram a fazer isso”.

Assim, a chave para acabar com essa pandemia não é apenas se vacinar. É ser vacinado o mais rápido possível, antes que o vírus se transforme em variantes que não poderemos mais controlar com as vacinas atuais.

“O que temos de fazer é, em primeiro lugar, tomar a vacina. Em segundo: olhe em volta, para sua família e amigos, e pergunte se eles vão se vacinar. Se precisarem de ajuda, é isso que temos de fazer”, disse o cirurgião-geral (chefe operacional do serviço de saúde pública) dos Estados Unidos, o doutor Vivek Murthy.

Via: CNN

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